Quando você está em algum lugar propício para admirar as
estrelas, e se a noite estiver especialmente boa para vê-las, é incrível
olhar para cima e se deparar com algo semelhante à imagem acima.
Algumas pessoas ficam impressionadas pela beleza do céu, ou se
deslumbram com a vastidão do universo. No meu caso, eu passo por uma
leve crise existencial, e depois ajo bem estranhamente por meia hora.
Cada um reage de um jeito diferente.
O físico Enrico Fermi também reagia diferente, e se perguntou: “cadê todo mundo?”
Os números
Um céu estrelado parece imenso, mas tudo o que estamos vendo é a
nossa vizinhança. Nas melhores noites estreladas, nós podemos ver até
2.500 estrelas (mais ou menos um centésimo de milionésimo do total de
estrelas em nossa galáxia). Quase todas estão a menos de mil anos-luz de
nós (ou 1% do diâmetro da Via Láctea). Então, na verdade estamos
olhando para isto:
Nosso céu noturno é formado por uma pequena parte das estrelas próximas e mais brilhantes dentro do círculo vermelho.
Quando somos confrontados com o assunto de estrelas e galáxias, uma
questão que atormenta a maior parte dos humanos é: “há vida inteligente
lá fora?” Vamos colocar alguns números nessa questão; se você não gosta
de números, pode ler só o negrito.
Nossa galáxia tem entre 100 bilhões e 400 bilhões de estrelas; no
entanto, este é quase o mesmo número de galáxias no universo observável.
Então, para cada estrela da imensa Via Láctea, há uma galáxia inteira
lá fora. No total, existem
entre 10^22 e 10^24 estrelas no universo. Isso significa que
para cada grão de areia na Terra, há 10.000 estrelas no universo.
O mundo da ciência não está em total acordo sobre qual porcentagem
dessas estrelas são parecidas com o Sol (similares em tamanho,
temperatura e luminosidade). As opiniões tipicamente vão de 5% a 20%.
Indo pela mais conservadora (5%) e o número mais baixo na estimativa
total de estrelas (10^22), isso nos dá 500 quintilhões, ou
500 bilhões de bilhões de estrelas similares ao Sol.
Também há um debate sobre qual porcentagem dessas estrelas similares
ao Sol poderiam ser orbitadas por planetas similares a Terra (com
condições parecidas de temperatura, que poderiam ter água líquida e que
poderia sustentar vida similar à da Terra). Alguns dizem que é até 50%,
mas vamos ficar com os conservadores 22% que apareceram
em um recente estudo no PNAS.
Isso sugere que há um planeta similar à Terra, potencialmente
habitável, orbitando pelo menos 1% do total de estrelas do universo: um
total de
100 bilhões de bilhões de planetas similares à Terra.
Então existem 100 planetas parecidos com a Terra para cada grão de areia do mundo. Pense nisso na próxima vez que for à praia.
Daqui para a frente, nós não temos outra escolha senão sermos
especulativos. Vamos imaginar que, depois de bilhões de anos de
existência, 1% dos planetas parecidos com a Terra tenham desenvolvido
vida (se isso for verdade, cada grão de areia representaria um planeta
com vida). E imagine que em 1% desses planetas avance até o nível da
vida inteligente, como aconteceu na Terra. Isso significaria que
teríamos 10 quatrilhões, ou
10 milhões de bilhões de civilizações inteligentes no universo observável.
Voltando para a nossa galáxia e fazendo as mesmas contas usando a
estimativa mais baixa de estrelas na Via Láctea, estimamos que existem
1 bilhão de planetas similares à Terra, e 100 mil civilizações inteligentes na nossa galáxia. (A
Equação de Drake traz um método formal para esse processo limitado que estamos fazendo).
A SETI (Busca por Inteligência Extraterrestre, na sigla em inglês) é
uma organização dedicada a ouvir sinais de outras vidas inteligentes. Se
nós estivermos certos e houver 100 mil ou mais civilizações
inteligentes na nossa galáxia, uma fração delas estaria emitindo ondas
de rádio, ou raios laser, ou qualquer coisa para realizar contato.
Então
os satélites da SETI deveria estar recebendo sinais de todo tipo, certo?
Mas não está. Nunca recebeu.
Cadê todo mundo?
Tipos de civilização
E tudo fica mais estranho. Nosso Sol é relativamente jovem em
relação ao universo. Há estrelas muito mais velhas, com planetas muito
mais velhos e semelhantes à Terra, o que em teoria representaria
civilizações muito mais avançadas que a nossa. Por exemplo, vamos
comparar nossa Terra de 4,54 bilhões de anos com um hipotético planeta
X, com seus 8 bilhões de anos.

Se o planeta X tiver uma história similar a da Terra, vamos olhar para onde sua civilização estaria hoje:
Hoje, o Planeta X estaria a 3,46 bilhões de anos de desenvolvimento além do que temos hoje.
A tecnologia e o conhecimento de uma civilização mil anos à nossa
frente poderia ser tão chocante quanto nosso mundo seria para uma pessoa
medieval. Uma civilização um milhão de anos à frente poderia ser tão
incompreensível para nós quanto a cultura humana é para chimpanzés. E o
planeta X está a 3.4 bilhões de anos à frente de nós…
Existe algo chamado de
Escala Kardashev, que nos ajuda a agrupar civilizações inteligentes em três grandes categorias, de acordo com a quantidade de energia que usam:
- uma Civilização Tipo I tem a habilidade de usar toda a energia de
seu planeta. Nós não somos exatamente uma Civilização Tipo I, mas
estamos perto (Carl Sagan criou uma fórmula para essa escala que nos
coloca como uma Civilização Tipo 0,7);
- uma Civilização Tipo II pode colher toda a energia de seu sistema
solar. Nosso débil cérebro Tipo I mal consegue imaginar como alguém
faria isso, mas nós tentamos nosso melhor, imaginando coisas como a Esfera de Dyson.
- uma Civilização Tipo III ultrapassa fácil as outras duas, acessando poder comparável ao da Via Láctea inteira.
Se esse nível de avanço parece difícil de acreditar, lembre-se do
planeta X e de seus 3,4 bilhões de anos de desenvolvimento além do nosso
(cerca de meio milhão de vezes mais do que o tempo que a raça humana
existe). Se uma civilização no planeta X for similar à nossa e foi capaz
de sobreviver até chegar no Tipo III, é natural pensar que a essa
altura eles provavelmente já dominaram a viagem interestelar,
possivelmente até mesmo colonizando a galáxia inteira.
Como essa colonização galáctica teria acontecido? Uma hipótese:
cria-se um maquinário que pode viajar para outros planetas, passam-se
uns 500 anos se auto-replicando usando os materiais que encontrarem no
novo planeta, e então enviam-se duas réplicas para fazerem a mesma
coisa.
Mesmo sem alcançar nada perto da velocidade da luz, esse processo
colonizaria a galáxia inteira em 3,75 milhões de anos, relativamente um
piscar de olhos quando estamos falando de uma escala de bilhões de anos:
Nesta evolução exponencial, a galáxia estaria completamente colonizada em 3,75 milhões de anos. Fonte: J. Schombert, U. Oregon
Continuando a especular, se 1% da vida inteligente sobreviver tempo
suficiente para se tornar uma colonizadora de galáxias Civilização Tipo
III em potencial, nossos cálculos acima sugerem que haveriam mil
Civilizações Tipo III só em nossa galáxia. Dado o poder de tal
civilização, sua presença provavelmente seria fácil de se notar. E,
ainda assim, nós não vemos nada, não ouvimos nada e não fomos visitados
por ninguém.
Então cadê todo mundo?
Sejam bem-vindos ao
Paradoxo de Fermi.
Ainda não há uma resposta para o Paradoxo de Fermi. O melhor que
podemos fazer é conseguir “explicações possíveis”. E se você perguntar a
dez cientistas diferentes qual o palpite deles sobre a explicação
correta, você terá dez respostas diferentes. Sabe quando humanos de
antigamente discutiam se a Terra era redonda, ou se o Sol girava em
torno da Terra, ou achavam que os raios aconteciam por causa de Zeus?
Por isso, hoje eles parecem primitivos e ignorantes; no entanto, esse é
mais ou menos o ponto em que estamos neste assunto.
Ao analisar as hipóteses mais discutidas sobre o Paradoxo de Fermi,
vamos dividi-las em duas grandes categorias: as explicações que supõem
que não há sinal de Civilizações Tipo II e III porque elas não existem; e
as explicações que sugerem que elas estão lá, só que não estamos vendo
ou ouvindo nada por outros motivos.
Grupo 1 de Explicações: não há sinais de civilizações superiores (Tipos II e III) porque elas não existem.
Aqueles que acreditam em explicações do Grupo 1 recusam qualquer
teoria do tipo “existem civilizações maiores, mas nenhuma delas fez
qualquer tipo de contato conosco porque todas _____”. O pessoal do Grupo
1 vê os números, entende que deveria haver milhares (ou milhões) de
civilizações superiores, e intui que pelo menos uma delas deveria ser a
exceção à regra. Mesmo se uma teoria abarcasse 99,99% das civilizações
superiores, o 0,001% restante se comportaria de alguma outra forma e nós
perceberíamos sua existência.
Por isso, dizem as explicações do Grupo 1, não entramos em contato
com civilizações superavançadas porque porque não existem. Como a
matemática sugere que existem milhares delas só na nossa galáxia, alguma
outra coisa deve estar acontecendo.
Essa “outra coisa” é o Grande Filtro.
A teoria do Grande Filtro diz que, em algum ponto entre o
início da vida e a inteligência Tipo III, há uma barreira. Há algum
estágio naquele longo processo evolucionário que é improvável ou
impossível de ser atravessado pela vida. Esse estágio é chamado de O
Grande Filtro.
As
linhas amarelas mostram saltos evolucionários comuns de serem
alcançados. A linha vermelha é o Grande Filtro. A linha verde
representa uma espécie que, passando por eventos extraordinários,
consegue ultrapassar o Grande Filtro.
Se essa teoria for real, a grande questão é: quando acontece o Grande Filtro na linha do tempo?
Acontece que, quando o assunto é o destino da humanidade, essa
questão é muito importante. Dependendo de quando O Grande Filtro ocorre,
sobram para nós três possíveis realidades: nós somos raros; nós somos
os primeiros; ou nós estamos ferrados.
1. Nós somos raros (já passamos do Grande Filtro)
Uma esperança é que já tenhamos passado do Grande Filtro. Nós
conseguimos atravessá-lo, portanto é extremamente raro que a vida
alcance nosso nível de inteligência. O diagrama abaixo mostra apenas
duas espécies passando por ele; nós somos uma delas.
Esse cenário explicaria por que não existem Civilizações Tipo III…
mas isso também poderia significar que nós podemos ser uma das exceções,
já que chegamos até aqui. Isso significaria que há esperança para nós.
Superficialmente, isso parece com as pessoas de meio século atrás,
sugerindo que a Terra é o centro do universo. Sugere que nós somos
especiais.
Mas se nós somos especiais, quando exatamente nos tornamos especiais?
Isto é, qual passo nós superamos, apesar de quase todo mundo ficar
preso nele?
Uma possibilidade: o Grande Filtro pode estar no comecinho de tudo;
pode ser incrivelmente raro que a vida comece. Esse é um candidato
porque demorou um bilhão de anos para a vida na Terra finalmente
acontecer, e porque nós tentamos exaustivamente replicar esse evento em
laboratórios e jamais conseguimos. Se este é mesmo o Grande Filtro, isso
significaria que não deve existir vida inteligente lá fora – pode
simplesmente não haver vida.
Outra possibilidade: o Grande Filtro pode ser o salto de células
procariontes simples para células eucariontes complexas. Após o
surgimento das procariontes, elas permaneceram dessa forma por quase
dois milhões de anos antes de darem o salto evolucionário para se
tornarem complexas e ganharem um núcleo. Se esse é o Grande Filtro, isso
significaria que o universo está repleto de células procariontes
simples e quase nada além disso.
Há outras possibilidades. Alguns acham até que nosso salto
evolucionário mais recente, alcançando nossa inteligência atual, é um
candidato a Grande Filtro. Ainda que o salto de vida semi-inteligente
(chimpanzés) até a vida inteligente (humanos) a princípio não pareça um
passo miraculoso,
Steven Pinker rejeita a ideia de que a “escalada ascendente” da evolução seja inevitável:
Uma vez que a evolução apenas acontece, sem ter um
objetivo, ela usa a adaptação mais útil para um certo nicho ecológico. O
fato que, na Terra, até hoje isso levou a inteligência tecnológica
apenas uma vez, pode sugerir que essa consequência da seleção natural é
rara e, consequentemente, não é um desenvolvimento infalível da evolução
de uma árvore da vida.
A maioria dos saltos não se qualifica como candidatos a Grande
Filtro. Qualquer Grande Filtro possível deve ser algo que só acontece
uma vez em um bilhão, onde uma ou mais anomalias devem ocorrer para
proporcionar uma enorme exceção.
Por esse motivo, algo como pular de uma vida unicelular para uma multicelular está fora de questão como filtro,
porque isso aconteceu pelo menos 46 vezes em
incidentes isolados, só no nosso planeta. Pela mesma razão, se nós
encontrarmos uma célula eucarionte fossilizada em Marte, ela iria tirar o
salto “de-célula-simples-para-complexa” da lista de possíveis Grandes
Filtros (assim como qualquer outra coisa que esteja antes desse ponto na
cadeia evolucionária). Se isso aconteceu tanto na Terra quanto em
Marte, claramente não é uma anomalia.
Se nós formos mesmo raros, isso pode ser por causa de um acidente
biológico, mas isso também pode ser atribuído ao que se chama de
Hipótese da Terra Rara. Ela sugere que, ainda que existam muitos
planetas similares a Terra, as condições particulares do nosso planeta o
tornam tão conveniente à vida — sejam as relacionadas a seu sistema
solar, seu relacionamento com a Lua (uma lua tão grande é incomum para
um planeta tão pequeno, contribuindo para as condições peculiares de
nosso clima e nosso oceano), ou algo sobre o planeta em si.
2. Nós somos os primeiros
A civilização humana é representada pela linha laranja.
Para pensadores do Grupo 1, se já não tivermos passado pelo Grande
Filtro, nossa única esperança é que, do Big Bang até hoje, as condições
no universo estão alcançando um nível que permita o desenvolvimento de
vida inteligente. Nesse caso, nós podemos estar a caminho da super
inteligência, mas isso ainda não aconteceu. Por acaso, nós estaríamos na
hora certa para nos tornarmos uma das primeiras civilizações super
inteligentes.
Um exemplo de um fenômeno que poderia tornar isso realístico é o
predomínio de explosões de raios gama, detonações absurdamente imensas
que observamos em galáxias distantes. Levou algumas centenas de milhões
de anos para que os asteróides e vulcões se acalmassem e a vida se
tornasse possível.
Da mesma forma, pode ser que o começo das existências no universo
esteja cheio de eventos cataclísmicos, como explosões de raios gama que
incinerariam tudo à sua volta de tempos em tempos, evitando que qualquer
vida se desenvolva a partir de um certo estágio. Talvez estejamos agora
no meio de
uma fase de transição astrobiológica, e essa seja a primeira vez que qualquer vida tenha sido capaz de se desenvolver ininterruptamente por tanto tempo.
3. Nós estamos ferrados (o Grande Filtro está chegando)
O Grande Filtro é representado pela linha vermelha.
Se nós não somos nem raros nem pioneiros, os pensadores do Grupo 1
concluem que O Grande Filtro deve estar no nosso futuro. Isso implicaria
que a vida frequentemente evolui até onde estamos, mas alguma coisa
impede, em quase todos os casos, que a vida vá muito adiante e alcance a
inteligência avançada — e dificilmente nós seremos uma exceção.
Um possível Grande Filtro seria algum evento cataclísmico que ocorra
regularmente, como as já mencionadas explosões de raio gama. Só
que ela ainda não teria ocorrido e, infelizmente, é uma questão de tempo
até que ela acabe com toda a vida na Terra. Outra candidata é a
destruição possivelmente inevitável que quase todas as civilizações
inteligentes acabariam trazendo para si mesmas, uma vez atingido certo
nível de tecnologia.
É por isso que o filósofo Nock Bostrom, da Universidade de Oxford, diz que “
boa novidade é não haver novidade“.
Se descobrirem vida em Marte, mesmo que simples, isso seria devastador,
porque eliminaria diversos potenciais Grandes Filtros no passado. E se
encontrarmos fósseis de vida complexa em Marte, Bostrom diz que “seria a
pior notícia já impressa em uma primeira página de jornal”, porque
significaria que o Grande Filtro está quase que definitivamente à nossa
frente, condenando toda nossa espécie de uma vez. Bostrom acredita que,
quando se trata do Paradoxo de Fermi, “o silêncio do céu noturno é
ouro”.
Grupo 2 de Explicações: civilizações inteligentes dos Tipos I e II
existem, mas há razões lógicas para que não tenhamos ouvido falar delas.
As explicações do Grupo 2 abandonam qualquer ideia de que nós somos
raros, especiais ou qualquer coisa parecida. Pelo contrário,
elas acreditam no Princípio da Mediocridade: ou
seja, até que se prove o contrário, não há nada de especial ou incomum
em nossa galáxia, sistema solar, planeta ou nível de inteligência. Além
disso, elas são mais cautelosas antes de assumir que, se não há
evidências de uma inteligência superior, ela não existe. Elas enfatizam o
fato de nossas buscas por sinais só alcançarem mais ou menos até 100
anos-luz de nós (0,1% da galáxia) e só terem ocorrido há menos de uma
década, o que é pouquíssimo tempo.
Pensadores do Grupo 2 têm uma ampla gama de possíveis explicações
para o Paradoxo de Fermi. A seguir, eis as nove mais discutidas:
Possibilidade 1: a vida superinteligente pode ter visitado a Terra antes de estarmos aqui.
Humanos sencientes só estão por aí há uns 50 mil anos, um piscar de
olhos se comparado à existência do universo. Se o contato ocorreu antes
disso, deve ter assustado alguns patos e só. Além disso, nossa história
documentada só vai até uns 5.500 anos atrás. Por isso, talvez tribos
humanas de caçadores-coletores pode ter passado por algumas experiências
loucas com aliens, mas não tinham como contá-las para as pessoas do
futuro.
Possibilidade 2: a galáxia foi colonizada, mas nós moramos em uma área despovoada.
As Américas podem ter sido colonizadas pelos europeus muito antes de
qualquer um daquela pequena tribo Inuit ao norte do Canadá ter percebido
o ocorrido. Pode haver um elemento de urbanização nas moradias
estelares das espécies mais avançadas: todos os sistemas solares de uma
certa área são colonizados e estão em comunicação, mas seria pouco
prático e inútil pra qualquer um deles vir até o canto distante e
aleatório em que vivemos.
Possibilidade 3: todo o conceito de colonização física é comicamente atrasado para uma espécie mais avançada.
Uma Civilização Tipo II consegue usar toda a energia de sua estrela.
Com toda essa energia, eles podem ter criado um ambiente perfeito para
eles, satisfazendo todas as suas necessidades. Eles podem ter meios
hiperavançados de reduzir a necessidade de recursos, e interesse zero em
deixar sua utopia feliz para explorar um universo frio, vazio e pouco
desenvolvido.
Uma civilização ainda mais avançada poderia ver todo o mundo físico
como um lugar horrivelmente primitivo, tendo há muito dominado sua
própria biologia e feito upload de seus cérebros para uma realidade
virtual, um paraíso da vida eterna. Viver em um mundo físico de
biologia, morte, desejos e necessidades pode soar para eles da mesma
forma como nos soam as espécies primitivas vivendo no oceano escuro e
gelado.
Possibilidade 4: há civilizações predatórias e assustadoras
lá fora, e as formas de vida mais inteligentes sabem que não devem
transmitir sinais e divulgar sua localização. Essa é uma ideia
desagradável, mas que ajudaria explicar a falta de sinais recebidos
pelos satélites SETI. Ela também significaria que, ao transmitir nossos
sinais lá pra fora, estamos sendo novatos inocentes e descuidados. Há um
debate envolvendo METI (Mensagem às Inteligências Extraterrestes na
sigla em inglês; o inverso de SETI, que só escuta). Basicamente,
deveríamos mesmo enviar mensagens para o universo? A maioria das pessoas
diz que não.
Stephen Hawking adverte: “se aliens nos visitarem, o resultado pode
ser parecido com a chegada de Colombo nas Américas, que não terminou bem
para os nativos”. Mesmo Carl Sagan, que geralmente acredita que
qualquer civilização avançada o bastante para viagens interestelares
seria altruísta, não hostil, diz que a prática de METI é “
profundamente imprudente e imatura“,
e recomendou que “as crianças mais novas de um cosmo estranho e incerto
deveriam ouvir em silêncio por um longo tempo, aprendendo pacientemente
e tomando notas sobre o universo, antes de gritar para uma selva
desconhecida que não conseguimos compreender”. Assustador.
Possibilidade 5: existe apenas uma única inteligência
superior, uma civilização “superpredadora” (mais ou menos como os
humanos aqui na Terra) que é muito mais avançada que todas as outras e
mantém as coisas assim, exterminando qualquer civilização que ultrapasse
um certo nível de inteligência. Isso seria um saco. Poderia
funcionar se o extermínio de todas as inteligências emergentes fosse um
desperdício de recursos, já que a maioria se mata sozinha. Mas,
ultrapassado um certo ponto, esses super seres agiriam porque, para
eles, uma espécie inteligente emergente se tornaria um vírus, conforme
começasse a crescer e se expandir. Essa teoria sugere que a vitória é de
quem foi o primeiro a alcançar a inteligência superior. Ninguém mais
tem chance. Isso explicaria a falta de atividade lá fora, porque o
número de civilizações superinteligentes seria 1.
Possibilidade 6: há muito barulho e atividade lá fora, mas
nossas tecnologias são muito primitivas e nós estamos procurando pelas
coisas erradas. É como entrar em um prédio de escritórios,
ligar um walkie-talkie (que ninguém mais usa) e, ao não ouvir nada,
concluir que o prédio está vazio. Ou talvez, como apontou Carl Sagan,
pode ser que nossas mentes trabalhem exponencialmente mais rápido ou
mais lentamente do que a de qualquer outra forma de vida lá fora. Ou
seja, eles levam 12 anos pra dizer “oi” e, quando nós ouvimos essa
comunicação, isso parece apenas ruído.
Possibilidade 7: civilizações mais avançadas sabem sobre nós e
estão nos observando, mas se ocultam de nós (a “Hipótese do
Zoológico”). Até onde sabemos, civilizações super inteligentes
existem em uma galáxia controlada rigidamente, e nossa Terra é tratada
como parte de um safári amplo e protegido, e planetas como o nosso estão
sob uma estrita regra de “olhe, mas não toque”. Nós não estamos cientes
deles porque, se uma espécie muito mais inteligente quisesse nos
observar, ela saberia como fazer isso sem nos deixar saber. Talvez haja
uma regra similar à “Primeira Diretriz” de Jornada nas Estrelas, que
proíbe seres super inteligentes de fazerem qualquer contato aberto com
espécies inferiores como a nossa, ou de se revelarem de qualquer forma,
até que a espécie inferior alcance um certo nível de inteligência.
Possibilidade 8: civilizações superiores existem à nossa volta, mas somos primitivos demais para percebê-las. Michio Kaku resumiu isso assim:
Digamos que há um formigueiro no meio da floresta. Ao
lado do formigueiro, estão construindo uma super autoestrada de dez
faixas. E a questão é, “as formigas seriam capazes de entender o que é
uma super autoestrada de dez faixas? Elas seriam capazes de entender a
tecnologia e as intenções dos seres construindo a autoestrada a seu
lado?”
Então não é que, usando nossa tecnologia, não sejamos capazes de
receber os sinais do planeta X. É que nós não conseguimos sequer
entender o que são os seres do planeta X, ou o que eles estão tentando
fazer. É tão além de nós que mesmo se eles quisessem nos esclarecer,
seria como tentar ensinar às formigas sobre a internet.
Seguindo essa linha, essa pode ser uma resposta para “se existem
tantas exuberantes Civilizações Tipo III, por que ainda não entraram em
contato conosco?”. Para responder isso, vamos nos perguntar: quando
Pizarro chegou ao Peru, ele parou um tempo em um formigueiro e tentou se
comunicar com ele? Ele foi magnânimo, tentando ajudar as formigas? Ele
foi hostil e atrasou sua missão original só para esmagar e destruir o
formigueiro? Ou, para Pizarro, o formigueiro era completa e absoluta e
eternamente irrelevante? Essa pode ser a nossa situação nesse caso.
Possibilidade 9: nós estamos completamente enganados sobre nossa realidade.
Há muitas maneiras pelas quais nós podemos estar totalmente iludidos em
tudo que pensamos. O universo pode parecer ser de um jeito e ser de
outro completamente diferente, como um holograma. Ou talvez nós sejamos
os alienígenas e fomos plantados aqui como um experimento. Há até mesmo a
chance de que sejamos parte de uma simulação de computador de algum
pesquisador de outro mundo, e outras formas de vida simplesmente não
foram programadas na simulação.
Conclusão
Conforme continuamos em nossa possivelmente inútil busca por
inteligência extraterrestre, eu não tenho certeza o que queremos
encontrar. Francamente, tanto faz saber se estamos oficialmente sozinhos
no universo ou se estamos oficialmente na companhia de outros, ambas
são opções assustadoras. É um tema recorrente em todos os enredos
surreais acima: qualquer que seja a verdade, ela é de enlouquecer.
Além de seu chocante ingrediente de ficção científica, o Paradoxo de
Fermi também me deixa profundamente humilde. Não só lembra que sou
microscópico e minha existência dura uns três segundos, algo que me vem à
cabeça sempre que penso sobre o universo. O Paradoxo de Fermi traz à
tona uma humildade mais mordaz, mais pessoal, do tipo que só acontece
depois de passar horas de pesquisa ouvindo os mais renomados cientistas
de nossa espécie apresentando as teorias mais insanas, mudando de ideia e
contradizendo um ao outro freneticamente. Ele nos faz lembrar que as
futuras gerações olharão para nós da mesma forma que nós olhamos para os
antigos, que tinham certeza que as estrelas estavam sob o domo do céu;
no futuro, lembrarão de nós dizendo “uau, eles não tinham ideia nenhuma
do que estava acontecendo”.
E ainda temos mais outro golpe à autoestima com todo esse assunto de
Civilizações Tipos II e III. Aqui na Terra, nós somos os reis de nosso
pequeno castelo, comandando os rumos do planeta mais do que qualquer
outra espécie. Nessa bolha, sem competição e sem ninguém para nos
julgar, é raro que sejamos confrontados com a ideia de sermos uma
espécie inferior a qualquer outra. Mas não somos nem uma Civilização
Tipo I!
Dito isso, toda essa discussão é maravilhosa para mim. Sim,
tenho minha perspectiva de que a humanidade é uma órfã solitária em uma
pequena rocha no meio de um universo solitário. Mas as hipóteses apontam
que provavelmente não somos tão espertos como pensamos. Além
disso, muito do que temos certeza pode estar errado. Tudo isso me deixa
esperançoso em conhecer e descobrir mais, nem que seja um pouquinho,
porque existem muito mais coisas do que nós temos consciência.